A história de Portugal é contada principalmente a partir do século XII, com a aparição dos primeiros estados portugueses. Mas na realidade começou muito antes disso…
Sabia que vários povos tiveram uma grande influência na cultura portuguesa, muito antes da formação do país?
Antes de se tornar em Portugal, o país que hoje conhecemos, muito antes das fronteiras serem definidas, a Península Ibérica foi ocupada pelos romanos.
Então o que é que eles fizeram?
Os romanos ficaram no território durante mais de 5 séculos, de 146 a.C. a 409 d.C., e eram um povo civilizado com uma organização social hereditária e hierárquica.
Deixaram a sua marca de uma forma visível, com a construção de monumentos como o Templo de Diana em Évora, a antiga cidade de Conímbriga e muitos outros monumentos como anfiteatros, templos e banhos.
Deixaram também a sua marca na cultura, introduzindo a escrita, a escolaridade, muitos conceitos científicos e o conceito anteriormente desconhecido de propriedade privada. Também desenvolveram o cultivo de cereais e a pesca, assim como a produção de vinho e de sal.
E finalmente, tiveram influência na língua, já que o Galaico-Português era a língua dominante da região e substituiu todos os dialetos falados anteriormente.
Mas após a sua derrota contra os bárbaros, os romanos tinham que partir e lhes ceder o lugar.
Apesar de não terem ficado muito tempo, apenas um pouco mais de um século, os bárbaros influenciaram a forma como a política funcionava, uma vez que a Igreja, que era católica, tinha um papel muito maior na tomada de decisões.
Mas o último povo a ocupar o território antes da formação de Portugal foi os Mouros, e eles também deixaram muitos vestígios que ainda hoje são visíveis.
Os Mouros eram muçulmanos do Norte de África, eram grandes conquistadores com muito boas técnicas de guerra, e em menos de quatro anos dominaram a Península Ibérica e aí viveram entre 300 e 500 anos.
Porque é que eles eram tão importantes?
Os mouros trouxeram os seus conhecimentos e métodos de plantação e irrigação e ainda há ruínas e relíquias que atestam o seu engenho.
Deixaram muitos vestígios da sua passagem, castelos, por exemplo, mas também nomes de cidades, começando por Al-, Albufeira, Alcabideche, Alcobaça… Muitas palavras na língua portuguesa moderna têm origem árabe, por exemplo, “alecrim” do árabe al-iklīl, “alface” do árabe al-ḫass, “açúcar” do árabe as-sukkar… e muitas outras.
Mas os Mouros não só influenciaram a língua, também afetaram profundamente a cultura e a gastronomia. De facto, mesmo alguns objetos emblemáticos portugueses têm origem árabe, tais como os azulejos, az-zulaich em árabe. No entanto, foi apenas nos séculos XV e XVI que foram aplicados pela primeira vez em Portugal e o seu estilo é muito português, com cores e desenhos nunca antes vistos.
Também não fique surpreendido se durante a sua visita a Portugal descobrir que o fado, o estilo musical característico português, soa a canções árabes, pois diz-se que foi influenciado pelos mouros.

Então e a gastronomia?
No que diz respeito à gastronomia, os Mouros interferiram muito com a agricultura e a dieta mediterrânica. Plantaram oliveiras, especiarias, amêndoas, batatas, e muito mais, que são agora alimentos quotidianos.
Os pratos preparados são simples e modestos, tais como sopa, guisados, ensopados, etc. São, por exemplo, as açordas ou sopas alentejanas, o ensopado de borrego… O azeite é utilizado na maioria dos casos e é consumido mais peixe do que carne.
O vinho também é uma bebida muito popular durante as refeições e, por boas razões, os Mouros trouxeram novas formas de cultivar e produzir vinho, sendo hoje um dos símbolos mais importantes de Portugal.

Mas os Mouros também deixaram algumas receitas de sobremesas e bolachas.
Apesar de a maioria das sobremesas terem sido inventadas no século XVI em conventos e se basearem-se principalmente em ovos, especialmente nas gemas, uma vez que a clara era utilizada como elemento purificador na altura, e também para engomar roupas, ainda hoje se pode encontrar algumas receitas que foram inventadas pelos Mouros.
Por exemplo, o maçapão que é uma espécie de pasta de amêndoa, os bolinhos de amêndoa, e as alcomonias que são uma massa em forma de diamante feita de farinha de trigo torrada, mel e pinhões.
Estes povos que viviam na Península Ibérica antes da formação do país tiveram uma enorme influência na cultura e modificaram a paisagem. Trouxeram consigo a sua arquitetura e as suas técnicas de agricultura, de cozinha… E sem eles a cultura portuguesa não seria o que é hoje!
